Dia Mundial da AIDS 2023

Olá, meu leitor!

Neste ano 2023, lembramos os 42 anos do isolamento do HIV, após os primeiros relatos de uma nova doença surgirem em 1978, em San Francisco, na California.

Mesmo com mais de 40 anos de história, esta doença ainda é carregada de preconceitos, discriminação e meias verdades, o que só dificulta o seu controle.

Estima-se que hoje existam 39 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo, sendo pouco mais de um milhão aqui no Brasil.

Nestes mais de 40 anos, muita coisa mudou. O que era uma sentença de morte certa e breve passou a ser uma doença crônica, controlável. Os pacientes, no início, tomavam mais de 30 comprimidos ao dia, com muitas dificuldades – um era em jejum, outro com estômago cheio, um não podia ser tomado junto do outro, efeitos adversos importantes e, o mais importante: pouca efetividade.

Hoje os esquemas terapêuticos são muito efetivos e muito mais fáceis de tolerar, muito poucos efeitos adversos e grande efetividade.

Já há casos relatados – poucos, é verdade – de cura, mas que alimentam a nossa esperança de dias melhores para os pacientes e para nós, que trabalhamos diuturnamente neste combate.

Em alguns lugares, houve redução dos casos novos e, em outros, houve aumento. Ainda precisamos muito falar sobre este assunto, dar oportunidade de tratamento aos doentes e implementar políticas públicas de enfrentamento da doença que cheguem, também, aos mais vulneráveis.

Até breve!

Doença meningocócica de volta

Olá, meu leitor!

Estamos vivendo uma situação que há muito não víamos: um surto de doença meningocócica aqui em Maceió, com franca predominância do sorogrupo B.

Quando eu comecei a trabalhar no HEHA (na época HDT, ou Constança, como ainda é conhecido por parte da população), já lá vão 25 anos, havia enfermarias de meningite. Sempre tínhamos 2, às vezes 3 pacientes internados, desde formas leves até casos muito graves, com sequelas, amputações e mortes. Nessa época, predominava o sorotipo C.

Depois que a vacina para meningococo C foi introduzida na vacinação das crianças, a doença praticamente desapareceu. Passamos a ter casos isolados, muito esporádicos, e praticamente nenhuma morte nos últimos anos.

Porém, o meningococo mostrou que sempre é uma ameaça real. No último período de agosto de 2022 a agosto de 2023, tivemos 27 casos confirmados, com 11 óbitos. Dezesseis casos foram confirmados do sorogrupo B, para o qual ainda não dispomos de vacina na rede pública.

Um dado preocupante é o desconhecimento da população e parte dos médicos da enorme gravidade desta doença. É preciso sempre lembrar que meningite é emergência médica, que pode matar em 24 horas ou deixar sequelas irreversíveis.

Novamente a raiva

Olá, meu leitor

A raiva, nossa velha conhecida, voltou a dar sinais que ainda não podemos descuidar dela.

Este ano, em Minas Gerais, houve um caso humano, transmitido por um bovino, após o registro de alguns casos em indígenas, no mesmo estado.

Esta semana, outro susto: foi confirmado um caco de raiva canina em São Paulo, e a primeira informação é que se trataria da variante do cão, que já não era registrada há quase uma década. Acendeu-se o alerta para a revisão da vacinação destes animais.

Já no fim da semana, o Instituto Pasteur confirmou que o caso de raiva no cão foi pela variante do morcego. Alívio por um lado por saber que a variante canina continua, até agora, controlada, mas permanece o alerta que não podemos descuidar da vacinação dos animais e, principalmente, não podemos descuidar da profilaxia nas pessoas acidentadas.

Não vale a pena descuidar e aplicar o protocolo de Recife, o risco de morte ainda é muito alto e as sequelas são certas e graves.

Até a próxima!

Raiva, nossa velha conhecida

Olá, meu leitor!

A raiva, também conhecida como hidrofobia, é doença reermengente de mamíferos e pode acometer os seres humanos. É uma doença quase 100% fatal.

Ocorrem cerca de 59.000 casos humanos por ano. Nos últimos anos, houve uma importante redução da transmissão pelos sorotipos do cão e do gato; os últimos casos humanos no Brasil estão ligados aos sorotipos do morcego, grande reservatório na natureza.

Esta semana, aqui no Brasil, a doença voltou a ganhar as manchetes na imprensa por causa de um caso humano em Minas Gerais. Um criador de gado examinou um bezerro que estava apresentando paralisia, acabou se infectando e, infelizmente, faleceu.

Ano passado houve outro caso humano, desta vez em Brasília, provocado pela arranhadura de um gato de rua.

Nos últimos anos, houve 4 casos em crianças indígenas no estado de Minas Gerais, atacados por morcegos.

A profilaxia antirrábica é extremamente efetiva, se aplicada da forma correta e em tempo hábil.

Se você sofreu uma mordedura, arranhadura, lambedura em mucosas ou em pele lesada, por qualquer animal mamífero, você deve procurar imediatamente um serviço de saúde para ser avaliado e, se necessário, iniciar a profilaxia.

Existe um tratamento antirrábico para a doença humana, conhecido como protocolo de Recife, que foi desenvolvido por um pesquisador americano, Dr Rodney Willoughby. Porém o tratamento é caro, difícil e não evita as sequelas da raiva. Muito melhor prevenir do que remediar.

Até a próxima!

Dia Mundial da Saúde

Olá, meu leitor!

Hoje, 7 de abril, é comemorado o dia mundial da saúde, instituído pela OMS. A Saúde não é simplesmente a ausência de doenças, é o completo bem estar físico, mental e social.

Estamos ainda vivendo um período excepcional na humanidade com a pandemia do SARS COV2, que afetou a todos de diferentes maneiras e intensidade. Estamos em fase de declínio de casos de covid, mas com emergência de vários surtos de outros vírus, como foi a cepa Darwin do influenza que surgiu no final de 2022 e escapou das vacinas aplicadas até então.

Houve erros e acertos na condução da pandemia pelos vários países em todos os continentes, o que acarretou níveis diferentes de casos e mortes.

O que fez realmente a diferença foi, realmente e de fato (como já se esperava) a vacinação, vitória da ciência que conseguiu desenvolver vacinas em tempo recorde, graças aos recursos financeiros e humanos empregados nesse grande esforço no combate contra a pandemia.

Entretanto, muitos países estão jogando vacinas fora, por falta de adesão de suas populações à vacinação, enquanto outros mal começaram a imunização por falta de recursos.

Para que a humanidade tenha, de fato, saúde, é preciso empregar todos os esforços para prover a todos água tratada, esgotamento sanitário, vacinas, educação em saúde, alimentação adequada e amparo social aos necessitados.

Até a próxima! Feliz dia da saúde a todos!

Surto de Marburg na Tanzânia

As autoridades sanitárias da Tanzânia confirmaram na terça-feira (21/03/2023) um surto da doença pelo vírus Marburg, um dos mais letais do mundo. No total, são pelo menos oito casos confirmados em cidades do Noroeste e cinco mortes do país africano até o momento.

O vírus de Marburg é responsável por causar uma febre hemorrágica grave denominada de doença do vírus de Marburg e é, muitas vezes, letal. Esta doença é provocada por um vírus da mesma família do Ebola.

O vírus de Marburg é transmitido do morcego Rousettus aegyptiacus para humanos (quando há exposição prolongada ao habitat destes animais), podendo depois ocorrer o contágio entre humanos.

A transmissão entre pessoas ocorre por meio do contato da pele e mucosa com fluídos corpóreos (saliva, sangue, vômito, urina, fezes, suor, leite materno, sêmen) de uma pessoa sintomática infectada ou raramente de um primata não humano. Os seres humanos só são infectantes depois que desenvolvem os sintomas. O período de incubação pode variar entre dois a 21 dias (ou até aos 26 dias).

Os sintomas mais comuns são febre alta, com frio e calafrio, cefaléia intensa, mialgias, náuseas e vômitos, diarréia, cãimbras e dor de garganta.

Por volta do 5 dia, costuma surgir exantema maculo papular principalmente no tronco e hemorragias severas, que costumam evoluir para o óbito do paciente.

Algumas complicações já foram descritas: icterícia, choque, falência hepática, pancreatite, disfunção e falência de múltiplos órgãos, perda de peso severa, delírios, hemorragia severa e orquite.

Novo triste recorde: 700.000 mortes por covid19

Esta semana houve mais uma triste marca brasileira na pandemia de covid19: alcançamos a marca nada invejável de 700.000 mortos no país.

Estamos entrando no quarto ano da pandemia, com alguns avanços importantes. Hoje já sabemos tratar os pacientes com muito mais eficiência, pois conhecemos melhor os mecanismos do virus e os seus efeitos no organismo. Já conseguimos identificar os pacientes com maior risco de forma grave e já temos drogas antivirais que auxilia bastante, como a associação nirmatrelvir + ritonavir e o molnupiravir.

As medidas não farmacológicas, que foram o uso de máscaras, a higiene das mãos e o distanciamento social, foram importantíssimas no início da pandemia, quando ainda não sabíamos lidar adequadamente com a doença e não tínhamos medicamentos específicos nem vacinas para o controle desta doença.

Em tempo recorde na história da medicina, conseguiu-se desenvolver vacinas eficazes, que reduziram drasticamente o número de óbitos, sequelas e casos graves, e que nos permitiu voltar aos poucos à normalidade.

A doença também mudou nesse período. O vírus primitivo era muito mais inflamatório e acometia com muita intensidade o aparelho respiratório. Várias mutações depois, temos um vírus muito mais transmissível, mas menos agressivo, mas que ainda causa mortes em indivíduos muito idosos (com mais de 80 anos), imunodeprimidos e imunossuprimidos e, tristemente, indivíduos não vacinados.

A OMS ainda não decretou o fim da pandemia, pois ainda temos muitos países que não conseguiram controle adequado por várias razões; a principal: falta de acesso às vacinas.

A vacinação provou, mais uma vez, que é a arma mais eficiente e a única que consegue controlar surtos e epidemias, e até pandemias de vírus respiratórios.

Até a próxima!

Infectologista na mídia é bronca na área

Olá, meu leitor!

Infectologista na mídia é bronca na área! Ultimamente, nós, infectologistas temos aparecido diariamente na TV, rádio, jornais, blogs, lives etc, por causa da situação epidemiológica dos últimos anos.

De fato, não temos tido tranquilidade. Nos últimos anos, vimos o surgimento de doenças novas e o retorno de doenças meio esquecidas, apenas aguardando uma oportunidade para voltar – a mais frequente é a baixa cobertura vacinal.

Tivemos a introdução da zika e da chikungunya na época da copa do mundo de 2014, junto com dengue.

Depois, vimos surgir a maior epidemia de febre amarela da história. Logo a seguir, tudo junto e misturado, retorno do sarampo.

No início de 2020, um novo coronavirus causou uma das maiores pandemias da história da humanidade, com mais de 200 milhões de casos, 34 milhões só aqui no Brasil.

Quando a epidemia começa a esfriar, outros virus resolveram aparecer. Um dos primeiros foi a emergência da cepa Darwin, do influenza; depois apareceram vários virus respiratórios, mesmo em épocas atípicas.

E agora, um surto não usual de monkeypox, a varíola dos macacos, que passou a ser chamada mpox pela OMS, e que felizmente não fez o estrago previsto inicialmente.

O fato é que nós, infectologistas, não morreremos de tédio…

Até a próxima!

Langya henipavirus: uma nova ameaça?

Um novo vírus do gênero Henipavírus, grupo conhecido por já ter causado surtos de infecções altamente letais em humanos, foi revelado por cientistas na última quinta-feira (4/8). De acordo com a equipe de pesquisadores, o vírus denominado Langya henipavirus (LayV) causou infecções em ao menos 35 pessoas na China entre 2018 e 2021.

Este virus foi detectado em exames de vigilância de rotina em pacientes febris na China. Após o primeiro caso, outros 35 pacientes, nas províncias de Shandong e Henan, foram identificados com infecções pelo novo vírus.

A descoberta de um vírus do gênero Henipavírus preocupa porque outros patógenos desse grupo já causaram surtos e infecções graves na Ásia e na Oceania, principalmente “primos” do LayV chamados Hendra henipavirus (HeV) e Nipah henipavirus (NiV). A infecção pelo Hendra henipavirus (HeV) é rara, mas a taxa de mortalidade chega a 57%, segundo o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Já nos surtos do Nipah henipavirus (NiV) de que se tem notícia entre 1998 e 2018, a taxa de mortalidade variou de 40 a 70% das infecções. Ambos causam problemas respiratórios e neurológicos.

Até o momento, não há evidências de surtos nem epidemias por estes virus.

Ainda sobre vacinas

Olá, meu leitor!

Já escrevi algumas vezes sobre vacinação aqui neste blog, mas o assunto é tão importante que vou voltar a ele.

As três armas mais importantes que a medicina dispõe, desde sempre, para evitar doenças severas e, muitas vezes, fatais, são água encanada, esgotamento sanitário e vacinação.

As vacinas hoje disponíveis já evitaram milhões de mortes e sequelas graves por doenças que os médicos recém formados sequer viram, como a varíola, única doença humana erradicada por vacinação, e outras tantas que hoje estão controladas, com casos isolados, ou que foram reintroduzidas por falha na cobertura vacinal, como sarampo, rubéola, caxumba, difteria, tétano, coqueluche, febre amarela, doença meningocócica, meningite por Haemophylus B e outras.

Infelizmente, existe um movimento antivacina (antivax) que tem feito um estrago muito grande em todo o mundo, inclusive no Brasil. Esse grupo fica espalhando notícias falsas sobre vacinação, gerando medo na população, que resulta em falta de adesão a vacinação.

Dados da OMS divulgados recentemente mostram que, no ano passado, cerca de 25 milhões de crianças em todo o mundo deixaram de realizar as vacinas de rotina que protegem contra doenças potencialmente fatais, já que os efeitos colaterais da pandemia continuam a atrapalhar os cuidados de saúde em todo o mundo.

São dois milhões de crianças a mais do que em 2020, quando a covid-19 causou bloqueios em todo o mundo, e seis milhões a mais do que no período pré-pandemia, em 2019.

A UNICEF descreveu a queda na cobertura vacinal como o maior retrocesso sustentado na vacinação infantil em uma geração, levando as taxas de cobertura de volta a níveis não vistos desde o início dos anos 2000.

Muitos esperavam que 2021 seria um momento de recuperação após o primeiro ano da pandemia, mas a situação realmente piorou, levantando questionamentos sobre os esforços para retomada.

Não há razão plausível para não se vacinar e, principalmente, não vacinar as nossas crianças. É um enorme retrocesso civilizatório termos o retorno de doenças já controladas, como o sarampo, e a falta de controle de doenças graves, como a covid, por causa de recusa de vacinação.

Até a proxima!